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segunda-feira, maio 09, 2005

(aviso: este texto contém spoilers)

Shinichiro Watanabe ficou mundialmente conhecido por ter realizado Cowboy Bebop, que foi uma das séries de Anime com maior culto fora do Japão. Em 2004 voltou a espantar os fans, realizando uma obra fundamental da animação japonesa, Samurai Champloo, que reúne muitas das actuais linguagens gráficas, não só na animação, como nas artes gráficas em geral, e que abre novos caminhos na forma como entendemos a animação japonesa.

Jin numa luta animada
Jin numa luta animada


A série usa como principal tema as aventuras de Samurais, revelando muitos dos acontecimentos da história do Japão, apontando factos (reais ou não) da época Edo (1600-1867) e simultaneamente misturando elementos contemporâneos da Street Culture como o break dance, o hip hop e as graffitis, numa simbiose espantosa e de grafismo perfeito. O próprio título ‘avisa’ para esta mistura, sendo a palavra “Champloo” uma adaptação de “champuru”, que no dialecto de Okinawa quer dizer, precisamente, “mistura”.

Em poucas palavras, a série conta a viagem de três personagens, Mugen, um street fighter pouco disciplinado com um estilo de luta muito ligado ao break dance, Jin, um introspectivo samurai que parece andar a fugir ao seu próprio passado e Fuu, uma rapariga que, através de uma aposta, consegue convencer os dois a acompanhá-la numa viagem para encontrar um misterioso “samurai que cheira a girasóis”.
Durante 26 episódios, os três viajam até às principais cidades da época encontrando os mais invulgares personagens, reais e imaginários, que os vão guiando até chegarem a Nagasaki, um dos bastiões do catolicismo no Japão (de grande influência portuguesa).

Mugen, uma das três personagens principais
Mugen, uma das três personagens principais


Pelo caminho encontram personagens que revelam histórias ricas em simbolismo histórico e até estético, como o Samurai que procura a fama através do seu estilo hip hop, um holandês que quer ser japonês, um ‘suspeito’ descendente de São Francisco Xavier (o jesuita português conhecido por ter introduzido o Catolicismo no Japão), a tripulação de um navio norte-americano que é convidada a resolver uma disputa através de um jogo de baseball com os residentes, uma crew que vive apaixonadamente uma nova arte urbana (graffiti) e vários inimigos, letais ou patéticos, que parecem querer impedi-los de chegar ao final.

A viagem dos três personagens revela ainda de uma forma original (por vezes insólita) personagens (reais) como Ishikawa Moronobu, o pintor do século XVII, que tal como Hiroshige (no século XIX), terá sido uma das influências de pintores ocidentais como Van Gogh ou Degas, e Miyamoto Musashi, o lendário samurai do século XVII, retratado nos anos 50 num filme de Hiroshi Inagaki (com Toshirô Mifune como principal protagonista). É dado um especial destaque a factos verídicos da história japonesa, sobretudo à revolta cristã do século XVII, conhecida como Shimbara No Ran, que terminou com as sagrentas perseguições aos cristãos e a expulsão dos portugueses do Japão.

Fuu
Fuu na sua busca pelo "samurai que cheira a girassóis"


Samurai Champloo reúne muitos dos elementos do imaginário do Japão medieval e as suas leituras mais populares (com especial destaque para as séries de televisão dos anos 60/70 e os filmes de Kurosawa, ambos ‘copiados’ nesta série), com as influências culturais dos ‘gaijin’, quer na herança cultural que deixaram no Japão, quer através do fascínio actual por essas culturas, sobretudo a Norte-Americana.

Esta simbiose revela um estilo gráfico espectacular e uma narrativa que tem tanto de estranho como de empolgante, assente numa pormenorizada e completa caracterização de personagens, revelando muitas vezes acção com coreografias de combate estonteantes, um humor desconcertante mas também profundidade dramática, já sentidas em Cowboy Bebop, mas agora intensificadas.

brawl
Uma das cenas de acção que encontramos em Samurai Champloo


Estas personagens parecem querer contar as metamorfoses culturais do Japão actual, fazendo a ponte com um outro Japão, também em mudança, quando se adivinhava o final de uma época dominada pelos shoguns, e onde os samurais perderam o seu papel social, época essa que culminou no final da interdição aos ‘gaijin’ e a desenfreada industrialização e ‘ocidentalização’ da época Meiji (século XIX).

Se Cowboy Bebop mostrava já um desprendimento dos ‘estilos clássicos’ da Anime, Samurai Champloo veio criar um novo estilo, indicando um possível novo caminho da Anime, criando um exercício estético (desculpem o entusiasmo!) difícil de suplantar mas que será influente no futuro.

Uma série a adorar ou odiar!


Review gentilmente cedida pelo atomo!.

1 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Acabei de assistir todos os capitulos de Samurai Champloo, e realmente é incrível. Recomendo a todos que assitam, a combinação destes três personagens foi perfeita.

05:26

 

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